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Foto do escritorAdham (WA)

Iniciação



“Não dormes sob os ciprestes,

Pois não há sono no mundo”


Fernando Pessoa – Poema Iniciação


Iniciação é um começo, iniciar algo ou recomeçar. É uma mudança de rumo, iniciar novas atividades, iniciar novos comportamentos, iniciar novos compromissos, iniciar uma vida, e por iniciar uma nova vida, também pode-se entender como um renascimento.


Como diz os primeiros versos do poema Iniciação de Fernando Pessoa não é possível deixar-se ficar à sombra da eternidade, do destino (do cipreste) como se tudo fosse resolvido por si só, afinal o mundo não dorme, ou seja, a vida tem seus ciclos, o mundo tem seus ciclos. Ou se fica abandonado à sombra da eternidade, esperando que o mundo tome suas providências no tempo da eternidade que mal se compreende, ou se procura estar acordado para novas percepções e mudanças de rumo da própria vida, buscando as rédeas do próprio destino em sintonia com as leis do próprio mundo.


Sendo assim a iniciação também é um despertar dessas novas percepções, de forças que, de outro modo, dormiriam à sombra do cipreste.


Desde a antiguidade e em todas as culturas, praticaram, e ainda se praticam, rituais de iniciação, que representam momentos de mudanças na vida, chegada à fase adulta, união de casais, nascimentos e batismos, ingressos em cursos, entre outros.


Deve-se ressaltar que as práticas desses rituais têm ao menos três dimensões:


  • Uma simbólica, representativa e exotérica;

  • Uma de compromisso perante à cultura onde se está inserida;

  • E uma esotérica.


Sem essas três dimensões a iniciação não se realiza de fato, sendo o último aspecto da iniciação interior, ou esotérica, a mais importante, pois as mudanças necessárias para a verdadeira iniciação ocorrem no interior do sujeito iniciado. Essa é a verdadeira caminhada, a estrada do despertar, caso contrário serão apenas cascas vazias a adornar um falso renascimento.


Em outra estrofe do mesmo poema Iniciação se lê:

“Então Arcanjos da Estrada

Despem-te e deixam-te nu.

Não tens vestes, não tens nada:

Tens só teu corpo, que és tu.”


Esta estrofe representa que qualquer ritual ou compromisso cultural, por si, são símbolos importantes, que afetam nossas emoções profundas e podem provocar alterações internas e são, entretanto, representações vazias de significado se não houver a real disposição esotérica do iniciado.


A estrofe ainda apresenta uma dimensão importante, a dos “Arcanjos”, pois será essa disposição interna e sincera que colocará em movimento a sintonia entre o sujeito iniciado e as Forças ou Leis do mundo. Demonstra a compreensão da essência do sujeito iniciado, por isso sem vestes, que uma vez desnudo de aspectos ególatras de sua personalidade será conduzido em sintonia mágica por essas forças angelicais.


O descrito acima foi, em minha própria iniciação, o sentimento que tive, a inspiração que me tomou desde as profundezas da reflexão sobre a finitude da vida material e as cascas do ego que enevoam a verdadeira essência revestindo-a de ilusões, passando pelo caminhar em trevas, tateando, sendo conduzido pela própria vontade sincera de vencer os elementos que prendem nossa percepção a este mundo até chegar a um vislumbre de luz, retirados os obstáculos da visão, externa e interna.


Nesse momento ímpar senti um fluxo de energia capaz de verdadeiramente provocar um caminhar pela estrada da iniciação amparado por amigos visíveis e invisíveis e, de modo sutil, mas não menos realista, ter percebido alguém, ou algo, que poderia estar se aproximando de todos os presentes na cerimônia, tal qual um sábio a realizar uma espécie de benção sacerdotal de boas-vindas e proteção.


Ir.'. Wagner


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