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Foto do escritorIrmão Leigo

Ovo órfico, a serpente espiralada e a iniciação


O centro do ovo corresponde ao ponto dentro do círculo, simbolizando a semente de uma nova criação. É por isso que o “ovo órfico” é simbolizado conjuntamente a uma serpente em espiral.


O ovo órfico representa o emblema da primitiva seita gnóstica dos ofitas, que eram conhecidos como “os adoradores da serpente”.


A gravura mostra um ovo rodeado por uma cobra, em que o ovo representa a semente potencial, energia latente que está contida em uma caixa sem se manifestar, enquanto a serpente espiralada corresponde ao desenvolvimento real do que está inscrito no interior do ovo, ou seja, a “consciência do eu divino” ou “consciência crística”.


As Portas do Paraíso (a segunda imagem) é uma imagem de William Blake, que dá continuidade ao selo Ofita (o ovo cósmico), embora neste caso observamos claramente e de forma explícita aquilo o que estaria oculto dentro do ovo (um anjo emerge do ovo no momento oportuno).


Trata-se da alma humana, um espírito puro ou impulso vital que surge daquilo que o mantinha aprisionado.


Os alquimistas medievais proclamavam que é preciso à vida, um meio material apropriado para o seu desenvolvimento, ou seja, a ciência divina usa as leis naturais como meio para manifestar sua vida, transformando tudo sem matar nada, manifestando uma nova vida através da morte do velho. “Na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma!” (Lavoisier)


A serpente venerada pelos ofitas, a seita que floresceu nos primeiros séculos da nossa era, alude sua serpente à serpente do Gênesis e nos responde a uma compreensão especial do mistério da queda humana.


A imagem ao lado se refere perfeitamente ao episódio das Sagradas Escrituras em que Adão e Eva podem ser vistos em ambos os lados da árvore do conhecimento, estando a serpente enrolada em torno dela dirigindo sua cabeça em direção a Eva (conforme as escrituras, a serpente era um animal muito astuto, tentou enganar Eva ensinando uma meia verdade, o que causou a expulsão do Éden).


Os alquimistas diriam que o homem tinha um grande poder, um poder que foi justamente apresentado a Eva pela serpente, porém entregue parcialmente, isto é, a serpente apenas explicou uma parte da verdade, aquela que se referia ao poder da materialização do espírito (a encarnação da vida num corpo). No entanto, a serpente escondeu de Eva a divinização da alma humana, a qual está ligada a espiritualização da matéria.


Em outras palavras, a serpente disse a Eva meia verdade, que se referia ao poder da materialização do espírito, mas escondeu que depois dessa materialização deveria seguir à espiritualização da matéria, proporcionando a divinização da alma humana.


Quando os dois processos ocorrem sucessivamente, ocorre aquilo que foi simbolizado no caduceu de Hermes, duas serpentes num movimento de espiral dupla.


As serpentes do caduceu mercurial aludem à dupla operação alquímica de dissolver e coagular .


Além de representar o movimento das forças cósmicas, a espiral também simboliza a jornada iniciática.



Assim, a espiral é utilizada para representar o caminho que o neófito deve seguir para ir da periferia ao centro (VITRIOL).



Um exemplo desse caminho aparece ilustrado num papiro de 1678, no qual observamos na imagem a jornada de Cristiano, o protagonista, e seu fiel companheiro, o Evangelista.


Essa ilustração é representada como um caminho em espiral que leva do mais distante, (o mundo da destruição), ao mais íntimo, a cidade celeste.


Todas as versões do labirinto se baseiam nessa jornada espiralada do iniciado, como no caso do mítico labirinto de Creta feito por Dédalo, o artista-mágico, que para encerrar o perigoso Minotauro, cria um labirinto que às vezes é identificado com o do palácio de Knossos.


No momento de sua iniciação, o neófito inicia um caminho em espiral que o levará ao seu centro, onde encontra o seu próprio segredo (deus íntimo, pedra oculta), mas para isso ele deve nascer de novo, como a própria palavra indica.


No ritual de iniciação da Maçonaria, o candidato está parcialmente vestido e parcialmente nu, porque neste momento ele está deixando este mundo caótico para entrar no mundo da ordem, representado pelo templo maçônico.


Ele percorreu os chamados passos perdidos com os olhos vendados, guiado pelo irmão terrível, e isso perdura até que ele tenha deixado o mundo profano para trás e penetrado no interior do templo.


Nesta jornada, como se fosse uma peregrinação, o neófito deve superar uma série de testes em sua jornada das trevas para a luz.


Nos rituais maçônicos, como acontecia nos de Elêusis, o iniciado deve superar diversas provas para ascender das trevas à luz. Essa escuridão é, de fato, uma das imagens com as quais o inferno é simbolizado.


Em tempos pré-homéricos, a imagem do submundo era pensada como um labirinto ou floresta, em que as etapas do caminho iniciático apresentavam analogias marcantes com as do peregrino de Elêusis, onde o iniciado começa por se perder no labirinto vegetal da floresta.


Esta é uma etapa que aparece em todas as iniciações, talvez, porque entrar num labirinto é encontrar uma geometria secreta que guia pelos diferentes caminhos que vai amadurecendo a alma humana, por ser uma caminho desconhecido ao ser humano, que só consegue ver ao seu nível, ao nível do solo.

Esse labirinto ou jardim da iniciação corresponde ao neófito, que sente um profundo amor pela gnose e a persegue, assim como o cavaleiro errante persegue o rastro da sua amada princesa. Nessa busca ele deve passar pelo labirinto, sendo conduzido pelo fio de Ariadne.


E é assim que ele consegue passar no teste iniciático que envolve sua heroica experiência de passar pelo labirinto até o centro de luz!


A viagem pelo jardim ou pelo labirinto reproduz um profundo simbolismo dessa espiral iniciática, ou seja, o impulso de todo ser humano rumo ao centro misterioso, onde ele acessará a gnose, ou seja, a sabedoria divina.


Existe melhor símbolo para representar a nossa caminhada iniciática no mundo, senão o labirinto, o jardim ou ainda, o deserto?


Pax et Lux



FR+ Irmão Leigo

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Guest
Jun 09, 2023

O livre arbítrio

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